O verdadeiro problema do desenvolvimento pessoal

A busca por desenvolvimento pessoal possui um problema gravíssimo. 

E não estou falando das críticas mais superficiais que você certamente já ouviu por aí (falta de "embasamento científico", falta de profundidade, etc.).

Não sou daquelas pessoas que torcem o nariz para a literatura de auto-ajuda ou que desprezam o papel dos coaches por achar que apenas a tal “vida intelectual” deve ser levada à sério.

Pelo contrário: eu não apenas acho que há muitas ideias e técnicas valiosas nesse meio, como acredito que há algo de extremamente saudável na busca por esse tipo de conteúdo.

Afinal, as pessoas que procuram esse material, estão partindo de uma série de princípios intrinsecamente positivos:

  • elas estão confiando na própria capacidade de aprender;
  • estão acreditando na possibilidade de um futuro melhor;
  • e elas estão agindo — mesmo que de um modo ainda tímido — para chegar nesse futuro.

E, justamente pela intenção ser tão positiva, é ainda mais trágico que essa busca por desenvolvimento pessoal frequentemente desemboque em resultados negativos.

Esses resultados negativos vêm do verdadeiro problema dessa literatura: o fato dela frequentemente trazer, de modo implícito, uma série de pressupostos filosóficos e éticos equivocados.

Sei que essa proposição soará um pouco abstrata para alguns leitores, mas peço que me dêem alguns parágrafos para que possa mostrar como esse é um problema, na verdade, extremamente concreto.

Inclusive, esse é um problema que talvez afete muitas das pessoas próximas a você, graças à explosão de conteúdo de auto-ajuda nas redes sociais.

(Talvez até mesmo você).

Não existe uma técnica neutra de como viver

Sei que alguns de vocês estão pensando:

- “O que ética e filosofia tem a ver com isso? Estou apenas procurando algumas técnicas para viver melhor”.

Mas eis o problema: viver não é um assunto puramente técnico.

Só é possível abordar de modo puramente técnico as questões onde os fins e os parâmetros de ação estão perfeitamente estabilizados — o que está longe de ser o caso da vida concreta.

Por exemplo, se você decidiu que quer pendurar um quadro na parede, então você está diante de um problema técnico: qual tipo de parafuso vai aguentar o peso do quadro? Qual é o material da parede? Qual é melhor modo de furá-la?

Porém, se você está se perguntando se deve ou não colocar um quadro na parede, ou, pior ainda, o que faz tal quadro ser belo ou não, então você está diante de um problema fundamentalmente aberto e, portanto, impossível de ser respondido por uma técnica especializada.

A mesma coisa se repete em diversos domínios da vida.

Se você está procurando saber qual é o melhor lugar para aplicar o dinheiro que usará em uma viagem que fará ao exterior no próximo ano, o seu analista financeiro será capaz de lhe dar uma boa resposta técnica.

Porém, se você está se perguntando se é melhor viajar, poupar para aposentadoria ou abrir um negócio, de repente você está se perguntando sobre a finalidade da sua vida e não mais sobre os meios práticos necessários para realizar um projeto — e, obviamente, o analista financeiro deixou de ser a pessoa mais apropriada para lhe ajudar com esse tipo de dúvida.

E esse é o problema fundamental do campo de desenvolvimento pessoal: é impossível responder de um modo simples às questões do tipo o que fazer da vida sem entrar em questões complicadíssimas sobre qual é o melhor tipo de vida.

Ou seja, quando entramos nessas discussões, entramos também no campo das questões éticas e filosóficas.

Diante da enorme dificuldade desse tipo de discussão, os autores de desenvolvimento pessoal acabam varrendo essas discussões para baixo do tapete, fazendo de conta que elas não existem e que seria possível tratar desses assuntos de um modo puramente pragmático.

Porém, o puro pragmatismo simplesmente não faz sentido — e é, em si mesmo, algo prejudicial.

A arte de viver requer pressupostos metafísicos (uma concepção do que é real) e éticos (um concepção do que deve ser feito).

Mesmo que um determinado autor de desenvolvimento pessoal não explicite conscientemente esses pressupostos, eles estarão implícito em sua obra e irão influenciar, de algum modo, seus leitores.

O risco das espirais destrutivas

E é aí que as coisas ficam sérias: por mais que as intenções por trás da busca do desenvolvimento pessoal sejam positivas, é preciso verificar se ela não está trazendo pela porta dos fundos uma série de pressupostos destrutivos.

Vejam que mesmo a presunção de que existiria um jeito “tecnicamente neutro” de viver é, em si mesma, altamente prejudicial — e, portanto, longe de ser um pressuposto neutro.

Quando se aceita esse princípio, as pessoas passam a imaginar que há uma solução universal para a vida. Ou seja, que basta seguir a “fórmula x” ou “y” para chegar no Grande Resultado Esperado — seja ele qual for.

Vejam que o mesmo raciocínio se aplica independentemente do ideal em questão: seja partindo de um modelo de piedade religiosa, ativismo político, alta produtividade ou perfeição estética, o clima de “desenvolvimento pessoal” transmite a impressão que há um grande ideal a ser seguido e um único modo de chegar até ele.

O grande problema  tipo de raciocínio é que ele é simplesmente falso.

Não existe um único modo de viver.

Afinal, todos nós somos diferentes: nós não temos o mesmo contexto, os mesmos talentos, os mesmos objetivos, os mesmos recursos.

Portanto, cada um de nós precisa encontrar soluções distintas, apropriadas para a combinação específica e particular que nasce da articulação entre nossas circunstâncias, nossa natureza e nossos objetivos.

Pior ainda: tentar seguir soluções criadas para pessoas com objetivos e recursos diferentes dos seus, não apenas lhe levará ao fracasso, como você sairá desse fracasso convencido que ele é devido a uma falha pessoal.

Ou seja, você sairá pensando que, não apenas errou, como que tem algo errado dentro de você. Essa tese é, não apenas falsa, como extremamente destrutiva, pois lança as pessoas em uma espiral de auto-acusação destrutiva que lhe tornarão menos capazes de enfrentar os próprios problemas.

Em suma, ao colocar um ideal inatingível, acabamos ainda mais distante dos ideais que poderíamos efetivamente alcançar.

A verdadeira arte de viver

Eu poderia literalmente passar dias falando dos vários pressupostos destrutivos embutidos na literatura de desenvolvimento pessoal.

Poderia falar, por exemplo, como é prejudicial supervalorizar a motivação, como se fosse suficiente querer para mudar radicalmente de vida.

Poderia falar no subjetivismo, o foco excessivo em si mesmo que alimenta o narcisismo e distancia as pessoas da realidade.

Poderia falar ainda em como a própria ideia de desenvolvimento pessoal pode se tornar um mecanismo de procrastinação, nos afastando das nossas responsabilidades concretas ao nos prender em um loop sem fim de aprimoramento pelo aprimoramento.

Mas isso tudo fica para outro dia.

Hoje, queria falar sobre a solução para esse problema: resgatar a prioridade da filosofia para o desenvolvimento pessoal.

 Não é possível separar a reflexão sobre como viver da reflexão sobre a natureza última do ser humano. Há milênios os seres humanos se perguntam sobre como viver. Não faz sentido começar do zero.

Caso você queira conhecer mais sobre essa alternativa, recomendo a leitura do meu ebook, "Os cinco pilares da pilares da vida concreta".

Nesse livrinho, eu tentei esboçar uma alternativa de desenvolvimento pessoal com sólidos fundamentos éticos e metafísicos.

Meu objetivo foi tomar como partida uma visão mais clara da natureza humana e, em seguida, identificar os componentes necessários para levar uma vida que efetivamente gere valor para as pessoas ao nosso redor.

O ebook é de graça.

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