Por que o Canadá é tão aberto aos migrantes?

O Canadá tem um desafio civilizacional: é um país enorme e vazio.

A explicação começa por uma causa típica dos países desenvolvidos (declínio demográfico), exarcebada por fatores geográficos (inverno rigoroso), mas tem um ingrediente bastante incomum: o “desafio nacional” de integrar os dois povos de língua oficial.

Explico na sequência.

Causas gerais: geografia e demografia

O problema começa na geografia.

O país possui muitos recursos naturais, terras aráveis e uma infraestrutura de transporte inserida no , com vias férreas continentais e saída para o oceano nas duas costas.

Porém, essas vantagens econômicas encontraram historicamente um limite natural: os invernos rigorosos tornou difícil popular a área.

Com o avanço da tecnologia para a construção de casas e sistemas de aquecimento, o frio deixou de ser um problema. Mas foi aí que surgiu outra bronca: a trajetória demográfica.

O Canadá passa pelo envelhecimento típico dos países desenvolvidos: as famílias passaram a ter cada vez menos filhos a partir dos anos 60, com o avanço da urbanização e mudanças culturais, gerando uma população envelhecida, que precisa de imigrantes para manter a economia do país funcionando.

Todo ano, as empresas são pressionadas por uma onda de aposentadoria, sem ter um número suficiente de jovens entrando no mercado de trabalho para preencher as vagas abertas.

O desafio nacional — a integração dos povos ingleses e franceses

Além da geografia, o Canadá também tem uma especificidade histórica.

Ao contrário do que muita gente pensa, o Canadá não é exatamente um país bilíngue (onde as pessoas falam as duas línguas), mas um país oficialmente composto por dois povos distintos (ou seja, um país onde as pessoas falam uma das duas línguas oficiais).

Esse é um dos aspectos mais delicados da história nacional. O Québec entrou no Canadá por um processo que eles ainda estudam na escola com o título de “Conquista inglesa da Nova França” — um sinal claro que não estão exatamente felizes com o resultado.

Apesar da história conflituosa, hoje a maioria da população do Québec apoia a unidade nacional. Porém, para manter essa unidade, foi necessário um enorme esforço político, passando por diferentes esferas.

A abertura à imigração faz parte dessa dinâmica. Pela própria constituição, o país precisou criar uma espécie de “identidade plural” para integrar grupos sociais distintos e dissolver a tensão originária — um fator extremamente polêmico, aliás, que posso aprofundar em outro momento.

Polêmicas históricas à parte, isso cria uma dinâmica social em relação à imigração bastante distinta do que se vê na Europa.

Imigração e coesão social

Os observadores desatentos geralmente imaginam que a imigração no Canadá gera as mesmas tensões que se vê na Europa. A situação, no entanto, é significativamente diferente.

Obviamente, falar em “Europa” é generalizar demais, já que há países europeus em situações bastante distintas, tanto economicamente como socialmente.

Porém, via de regra, as tensões sociais européias tem a ver com um tipo específico de imigração: a recepção de refugiados, defendido como causa humanitária por parte da sociedade, mas gerando tensões com outros grupos, na medida em que esses recém-chegados grupo tem naturalmente mais dificuldade de se inserir economicamente (já que chegam na sequência de algum trauma político, sem recursos e sem ter se preparado para a mudança).

Nesse ponto, a geografia tem um peso maior do que os discursos políticos: isolado por dois oceanos e com um único vizinho rico e politicamente estável, o Canadá não tem o mesmo tipo de tensão. A quase totalidade da imigração é de trabalhadores qualificados e estudantes.

Questões humanitárias e políticas à parte, esse tipo de imigração é naturalmente menos tensa, já que são pessoas que se preparam para a mudança e que chegam para resolver o problema local da falta de mão-de-obra.

A imigração como política de estado

Em resumo, o Canadá precisa de imigrantes para resolver seu próprio desafio demográfico e suas implicações econômicas.

Por isso, a imigração é amplamente aceita por diferentes setores da sociedade e grupos políticos. Ela é, de certo modo, uma política de estado: todos os partidos reconhecem que o país precisa de mais gente.

Essa aceitação se reflete no dia-a-dia (os canadenses geralmente se esforçam voluntariamente para incluir os recém-chegados), na economia (há incentivo para a integração e mobilidade social dos estrangeiros no mercado de trabalho) e no próprio processo formal de migração.

Como o apoio a imigração é, efetivamente, uma política de estado, o Canadá tem um dos processos de imigração mais simples e transparentes do mundo.

Essa abertura à imigração, como expliquei nesse texto, é a principal vantagem do "Pacote Canadá".

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